Confirmado: a bolha vai estourar. Entenda o motivo e o que fazer

Michael Burry (que previu a crise de 2008 e teve a história retratada em The Big Short — A Grande Aposta) novamente foi foco no mundo dos investimentos ao tuitar:

“As pessoas sempre me perguntam o que está acontecendo nos mercados. É simples. A maior bolha especulativa de todos os tempos em todas as coisas. Por duas ordens de magnitude.”

O polêmico Michael Burry

Como de costume, ele deletou o tweet em seguida, pois já se encrencou com a SEC (a CVM americana) pelas suas tiradas. Mesmo assim, tudo que acontece na internet é registrado e comentado, ainda mais de uma figura tão importante. E ele não está sozinho. Alguns (ainda poucos) investidores e economistas também estão alertando para o otimismo e enorme valorização sem causa dos mercados, especialmente nos EUA:

Stanley Druckenmiller, lendário gestor de fundos e que já trabalhou com Soros, também considera que as recentes altas estão totalmente fora da realidade, alimentadas apenas pelas políticas insustentáveis do FED. Também foi notório o fato de Warren Buffett comprar poquíssimas ações em 2020 e 2021, enquanto se desfazia de muitas posições que possuía. Seu braço direito, Charlie Munger, resumiu extremamente bem o cenário atual: “Eu penso que só pode acabar mal, mas não sei quando”.

Essa é a questão fundamental. Quando. Ninguém sabe quando, nem por onde, vai começar a próxima crise. Mas a certeza é que uma hora os mercados vão cair — é o que sempre acontece, é a natureza do sistema. Mesmo que não seja pelos motivos que os investidores acima esperam, os mercados sempre caem, as altas sempre são revertidas e, quanto maior a altura, mais espaço há para queda. É o motivo do título deste artigo não ser mero clickbait. Seria, se eu te desse uma data ou um motivo específico. Mas não precisamos disso para chegar no que mais importa em qualquer material desse tipo: saber o que fazer nesse momento.

Não adianta nada falar que o fim do mundo vai chegar e só espalhar pânico infundado. Como o próprio Buffett diz: “Prever chuva não conta. Construir uma arca, sim”. Prever o futuro é para quem está na mídia ou na feirinha mística, não para investidores sérios. E se você investe em qualquer coisa além de renda fixa, tem que pensar o tempo todo em onde está seu porto seguro — não só a reserva de emergência, mas também uma reserva de oportunidade para comprar ativos baratos; seus investimentos sem correlação com o mercado; os que tem pouca chance de sumirem; até aqueles que podem continuar te gerando renda numa crise. Então vamos detalhar um pouco cada um deles:

  • Reserva de emergência:

6 a 12 vezes seu gasto mínimo mensal guardado em algum lugar seguro como Poupança, conta corrente atualizada pelo CDI ou CDB de liquidez diária

  • Reserva de oportunidade:

Capital livre, como na de emergência, ou em investimentos líquidos, que possam ser alocados rapidamente para ativos que percam muito valor em momentos de pânico (como a bolsa em março de 2020 — que se recuperou da queda e gerou lucros em poucos meses). Aqui podem entrar ativos que podem, mesmo com algum deságio, serem resgatados antes do prazo caso valha a pena (como Tesouro Direto, Fundos Imobiliários e de Renda Fixa).

  • Ativos sem correlação:

É fácil perceber que quando as bolsas caem, tudo costuma cair junto: FII, fundos multimercado, commodities, às vezes até mesmo ouro e Bitcoin. É importante buscar sempre investimentos que se movimentem de forma independente uns dos outros ou, pelo menos (e o que é mais fácil), evitar ficar investindo em ativos com padrões semelhantes achando que está diversificando. A divisão básica entre renda fixa e bolsa já é um bom começo — e por “bolsa” você pode entender todos os ativos que citei acima, que caminham mais ou menos juntos e contribuem da mesma forma para o risco da sua carteira.

  • Ativos seguros:

Basicamente, aqueles que, se deixassem de existir, levariam junto a sociedade como a conhecemos. Papéis do governo, de grandes bancos e empresas grandes são os principais. Não confie na “Garantia do FGC” para isso— num momento de quebradeira geral, é improvável que ela consiga honrar todo o capital “garantido”. Essa é uma garantia para falências individuais de bancos pequenos, não uma crise sistêmica.

  • Ativos que geram renda:

Papéis específicos de renda fixa, ações que gerem dividendos, imóveis e FII, até mesmo um negócio próprio. Você nunca deveria esperar rendimento de seus investimentos, a não ser no longuíssimo prazo. No entanto, em períodos de escassez, esse tipo de rendimento pode ajudar muito. Mesmo nas últimas crises, tivemos investimentos que continuaram gerando renda para seus possuidores, pois esse tipo de capital geralmente é negociado e alocado muito antes da crise bater — ou seja, você pode acabar aproveitando a “reserva de emergência” de bancos, de empresas e do governo.

Tendo isso em mente, estaremos muito mais preparados para enfrentar a próxima crise quando a bolha estourar, seja lá quando e qual seja. Temos a “sorte” de ter tido a última crise muito recentemente, e nada melhor que as feridas ainda doloridas da última queda para se preparar para a próxima. Use isso a seu favor e lembre-se: a maior regra do jogo é manter-se no jogo por décadas!

“Sempre teremos recessões, sempre teremos períodos de baixa na bolsa. Se você não aceita que isso acontece então você não está pronto, você não terá sucesso no mercado” Peter Lynch

E para finalizar, gostaria de deixar algumas mensagens boas:

O Brasil não será o epicentro do estouro da bolha, pelo menos não a de que Burry, Druckenmiller, Buffett e Munger estão falando. Nosso mercado e os incentivos do Banco Central são muito menos menores, especialmente quando consideramos o valor em dólar. Então a situação é menos extrema.

Nossa Bolsa, apesar da grande e injustificada alta, ainda tem múltiplos razoáveis — o P/E, por exemplo (traduzindo, P/L, preço sobre lucro), que mede quantas vezes o preço das ações é maior do que o lucro das empresas. Atualmente, é 10.75x, próximo da média dos últimos 10 anos. No início de 2021 o indicador estava excessivo mas, com a recuperação econômica, se estabilizou:

Compare com o mesmo índice no mercado americano, que está num nível superior a todas as bolhas, exceto a da internet dos anos 2000:

A ideia de investir em ações é se tornar sócio de empresas que dão lucro — e isso só faz sentido quando o valor para fazer isso é razoável. Isso é apenas um índice, mas demonstra bem como os preços lá fora estão fora de compasso com o retorno das empresas.

É claro que uma crise nos Estados Unidos vai afetar o valor dos ativos do mundo inteiro — prepare-se para outra saída de estrangeiros da nossa bolsa e busca por liquidez no mundo todo — mas é possível que a queda por aqui não seja tão dramática e/ou a recuperação seja ágil, assim como aconteceu após janeiro de 2016 e março de 2020, dois pontos baixos do índice P/L seguidos por bons resultados do mercado. Depois do pânico inicial e busca por liquidez, todo investidor vai procurar as melhores alocações para seu capital — novamente, isso significa ativos seguros e ações de empresas que estejam dando lucro.


PS: A minha busca nos últimos 15+ anos é investir de forma segura mas com resultados acima da média. Nos últimos anos, isso virou também meu trabalho. Se quiser se aprofundar mais, essas são as maneiras que posso te ajudar:

Curso: Método Definitivo para Montar um Portfólio — uma estratégia baseada na experiência de grandes investidores, testada em dados reais do nosso mercado (10+ anos), feita especialmente para sobreviver a (e prosperar em) crises.

Assinatura: A Evolução da Carteira — Portfólio Antifrágil — meus melhores investimentos alternativos, com pouca correlação entre si, incluindo 3 algoritmos que montei (dentro do tema, há um que encontra as empresas que estão dando mais lucro, investindo menos capital, e ainda estão com preços razoáveis na bolsa).