"Realizar prejuízo" só é possível de um jeito (e não é o que você pensa)

Desde que comecei a investir, mais de 15 anos atrás, ouço essa frase sempre que o mercado dá algumas rateadas pra baixo. “Não vende nenhuma ação agora! Se vender, vai estar realizando o prejuízo! Se não vender, não perdeu nenhum dinheiro!”.

Isso é uma falácia.

Primeiro, mostra a falta de visão financeira de quem fala isso (e se você é um deles, tudo bem, todo mundo já foi ignorante no assunto): quando suas ações, imóveis, títulos, criptomoedas, o que for, perdem valor, você já está tendo prejuízo. Eles fazem tão parte do seu patrimônio quanto dinheiro vivo (que também perde valor por causa da inflação).

Ou seja, vender um ativo por uma valor menor não é realizar prejuízo. Não é nada além de trocar uma forma de patrimônio por outra, ambas com valor mais baixo do que você gostaria.

Mas a percepção comum do “se não vender não perdeu” acontece por causa de um viés cognitivo muito comum e conhecido, a falácia dos custos irrecuperáveis. É a percepção de que, uma vez que você tenha perdido ou gasto dinheiro com algo, você está “preso” àquilo até que o dinheiro seja recuperado. Se sair do investimento, projeto, o que for, você coloca um ponto final na história e o prejuízo está consolidado para sempre.

Muitas vezes essa falácia nos leva a segurar investimentos ruins muito além do necessário, ou até colocar mais dinheiro nele na esperança que ele se recupere. Mas vender com prejuízo não é o fim de uma história. A única maneira de “realizar prejuízo” seria trocar seu patrimônio por dinheiro e gastar esse dinheiro — pronto, seu patrimônio diminuiu para sempre.

E aí chegamos nas duas soluções para esse problema:

Primeiramente: os mercados oscilam — geralmente de maneira aleatória ou irracional. Bons investimentos dão prejuízo e péssimas ideias prosperam (durante algum tempo). Enquanto os mercados não voltam a refletir seus fundamentos, devemos nos perguntar se aquele investimento que nos faz sofrer ainda faz sentido. Se ainda é uma ideia sólida, um projeto com potencial, uma empresa que gera valor. Só isso pode nos dar a tranquilidade de manter o investimento, colocar mais dinheiro num preço descontado, ou mudar de ideia e sair dele o quanto antes.

Em segundo lugar, e complementando a primeira ideia, faz muito sentido sair de um investimento ruim ou medíocre para alocar aquele capital em algo que tenha mais potencial. É o conceito básico de custo de oportunidade. Em finanças, significa apenas que se o seu capital está alocado em um ativo, ele não pode estar alocado em nenhum outro — então pode fazer sentido vender algo com prejuízo para aproveitar uma outra oportunidade que vai fazer seu capital crescer novamente.

Toda vez que estiver pensando em se desfazer de um ativo que está te fazendo sofrer com desvalorização, lembre-se dessas duas ideias. Elas vão te deixar mais tranquilo ao te dar um foco para agir racionalmente e ter mais sucesso no longo prazo.