A estratégia

Uma estratégia aprovada pelo tempo

"Investimento em valor" é uma forma de encontrar ações criada por Benjamin Graham no início do século XX. A ideia é simples: comprar ações baratas de empresas sólidas. A ideia é também eficaz, e o discípulo mais famoso de Graham é o próprio Warren Buffet. Há diversos outros investidores de sucesso que aplicam essa estratégia, além de diversos estudos comprovando que é uma forma boa de se investir. Quem inspirou esse site foi Joel Greenblatt, criador do lendário fundo de investimentos Gotham Capital e autor do livro "A fórmula mágica para bater o mercado de ações". Apesar do título picareta, o investidor tem um bom histório para comprovar suas ideias, com o fundo Gotham tendo rendimento de 50% anualizado no período em que esteve ativo - um tipo de rendimento incomum em mercados maduros como o americano.

A aplicação da Fórmula Mágica é objetiva: utilizando dados dos balanços das empresas, o algoritmo calcula o retorno sobre o capital investido ("ROIC") e o retorno de lucro ("Earnings yield") das empresas com ações mínimamente líquidas na B3. Além disso, testei outros critérios, como o preço atual da ação, para que o algoritmo retornasse um ranking ordenado.

Se pensarmos que comprar ações significa comprar um pedaço da empresa, a Fórmula mostra quais delas geram mais lucro necessitando de menos patrimônio e, também, que podem ser compradas com menos capital - ou, resumindo, quais os melhores negócios disponíveis na Bolsa. Ao testar essa ideia historicamente, Greenblatt percebeu que era suficiente para selecionar ações que tinham um bom potencial de crescimento e, assim, garantir rendimentos acima do mercado.

Funciona no Brasil?

Um indicador interessante sobre a bolsa é o gráfico abaixo, que mostra qual a porcentagem das vezes em que investir no mercado de ações vale mais a pena do que investir em renda fixa, no Brasil e nos EUA:

Ou seja, no Brasil, o CDI rende mais que o Ibovespa na maior parte das vezes, especialmente no longo prazo; enquanto que nos EUA o lucro garantido está na Bolsa. Combinado com o fato de que a maioria dos fundos não supera nem mesmo o índice do mercado, está bem claro que é preciso muito cuidado pra operar com renda variável no Brasil: o resultado mais normal é perder tempo e cabelos pra ter rendimento abaixo do CDI. Novamente, fica clara a importância de ter um plano sólido pra conseguir navegar essa situação desfavorável. E já existem alguns estudos sobre a estratégia de Greenblatt no Brasil, com algumas conclusões interessantes, como o artigo "Eficiência da magic formula de value investing no mercado brasileiro" de Rodolfo Zeidler (https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/12099), testando o período de dezembro de 2002 a maio de 2014 :

"As diferenças entre os CAGRs [Taxa Composta Anual de Crescimento] das carteiras e o do Ibovespa foram significativas, sendo que a carteira com pior desempenho apresentou CAGR de 27,7% contra 14,1% do Ibovespa. As carteiras também obtiveram resultados positivos após serem ajustadas pelo risco.(...) As carteiras com pior pontuação também apresentaram bons resultados na maioria dos cenários, contrariando as expectativas iniciais e os resultados observados em outros trabalhos. (...) Todas as carteiras apresentaram CAGR maior que o do Ibovespa em todos os períodos simulados, independentemente do número de ativos incluídos ou dos períodos de permanência. Estes resultados indicam ser possível alcançar retornos acima do mercado no Brasil utilizando apenas dados públicos históricos."

Interessante notar também que, de acordo com o mesmo estudo, a relação volatilidade x retorno dessas carteiras foi muito melhor que a do Ibovespa, independente do número de papéis ou tempo de permanência, contrariando a ideia simplista que maior retorno é necessariamente ligado a maior volatilidade e risco:

Em outro estudo da FGV, "TESTE DE EFICIÊNCIA DA MAGIC FORMULA DE VALUE INVESTING PARA O MERCADO BRASILEIRO DE AÇÕES ", de Leonardo Milane (https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/15280/Tese%20-%20Leonardo%20Milane%20-%20Magic%20Formula.pdf), foi testado o período de janeiro de 2000 a junho de 2015 de empresas que pertenciam ao IBX-100, ou seja, as 100 empresas mais líquidas da bolsa. Isso limitou bastante a possibilidade de encontrar papéis com potencial de crescimento explosivo, mas ainda assim os resultados foram bons:

"A carteira de 10 ações, com período de permanência de 1 ano, apresentou o maior CAGR dentre todas as outras (17,77%), superando o CAGR de 13,17% do IBX-100 no mesmo período. Esse resultado foi superior mesmo quando ajustado ao risco. Independentemente do período de permanência e número de ações, todas as carteiras apresentaram riscos sistemáticos menores do que o índice IBX-100"

Novamente vemos que o risco foi menor utilizando os princípios da Fórmula Mágica.

Limitações e ajustes

Claro, nem tudo é perfeito na fórmula de Greenblatt. O critério para montar a carteira e para vender parte das ações não é claro, Greenblatt simplesmente diz para ir comprando qualquer ação que estiver na lista e vender tudo depois de um ano. E faz sentido: a bolsa americana lista milhares de empresas, contra apenas algumas centenas que temos por aqui; as regras fiscais são diferentes, então a forma de vender é influenciada por isso. Por fim, como já vimos, o mercado americano é mais estável que o brasileiro, e aqui esse tipo de regra genérica não é o suficiente para garantir uma boa performance.

Felizmente, existem dados históricos públicos suficientes para fazer uma análise da estratégia, adicionar alguns critérios para compra e simular qual carteira bate o mercado consistentemente, isso tudo saindo da teoria e indo o mais próximo possível do modo real que as pessoas investem.

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